Bandeira do polêmico Yid Army (inglês: Exército Yid), como os torcedores do Tottenham (judeus e não judeus) decidiram se auto intitular. (Foto: Daily Mail) |
Pois bem, o Totttenham Hotspur era o time mais popular entre os judeus que imigraram para a região do East End de Londres no final do século 19 e começo do século 20, mais até que o West Ham e o Arsenal, que ficavam mais próximos. Outros distritos do norte de Londres, como Hackney, Harrow e Barnet, têm sido até hoje o lar de muitos judeus, o que também contribui para a imagem do Tottenham na região.
Nas décadas de 1970 e 1980, os torcedores do Tottenham passaram a sofrer com insultos antissemitas dos adversários, até pela razão de que o futebol inglês também sofreu com a violência e o racismo na época. A partir disso, os torcedores do Tottenham (judeus e não judeus), para se defenderem, pegaram os insultos e começaram a se autointitularem Yid Army.
O grande ponto é que "Yid" é uma forma pejorativa de se referir aos judeus, o que incomoda a FA (que já advertiu os torcedores a pararem) e até o primeiro ministro da Inglaterra David Cameron. Mas os torcedores dos Tottenham dizem que eles decidiram adotar este nome justamente por orgulho dessas origens e para desviar o significado ofensivo a ela ligada por alguns torcedores adversários.
Se essa é realmente a intenção ou não, creio que eles não estão conseguindo este desvio. São muitos os exemplos de torcedores adversários que seguem batendo na tecla do antissemitismo: Alguns vários às vezes fazem barulhos sibilantes para imitar o som de câmaras de gás dos campos de concentração (o que remete à coisas óbvias), e em Novembro de 2012, dois casos: 3 torcedores do West Ham foram presos por gestos antissemitas após a derrota por 3x1 no White Hart Lane pela Barclays Premier League, e pela Europa League de 2012-13, em Roma, torcedores fascistas da Lazio agrediram torcedores do Tottenham.
Outra peculiaridade do termo "Yid" é começar com a letra "Y", que foi usada na década de 1930 por Oswald Mosley, fundador da União Britânica de Fascistas e amigo próximo de Adolf Hitler.
Na atualidade, outro fato que pode ligar a imagem dos judeus com o Tottenham, é que o atual presidente do Tottenham, Daniel Levy, é judeu.
A parte judaica do Ajax. (Foto: http://www.rnw.nl/english/article/ajax-a-jewish-club-spite-itself) |
A questão do judaísmo em Amsterdã, cidade onde fica o Ajax, é ainda mais ampla porque antes da Segunda Guerra Mundial a cidade era chamada de "Jerusalém do Ocidente", pois cerca de 80.000 judeus dizem ter vivido na cidade e muitos eram fã do Ajax. O De Meer Stadion, estádio que o Ajax jogou de 1935 a 1996 (quando o estádio foi fechado e, em 1998, demolido), ficava no leste de Amsterdã, onde vivia a maioria dos judeus da cidade na época.
E depois da Segunda Guerra Mundial, o Ajax teve 3 presidentes judeus: Jaap van Prag (de 1964 a 1978), seu filho Michael (1989 a 2003) e Uri Coronel (2008 a 2011). Entre os jogadores, eram judeus: Eddy Hamel (jogou de 1922-1930), Johnny Roeg (1934-1936) Bennie Muller (1958-1970, ou seja, pegou o começo daquele Ajax que dominou a Holanda e a Europa, mas não ganhou a Copa Europeia), Sjaak Swart (1956-1973, e este sim ganhou as 3 Copas Europeias com o Ajax, em 1970-71, 1971-72 e 1972/73) e Daniël de Ridder (2004-2005).
Assim como os torcedores do Tottenham, os do Ajax sofreram com o antissemitismo na Eredivisie (Liga nacional holandesa) durante e após os anos 1970 e, como resposta, o grupo hooligan "F Side" assumiu a imagem judaica em 1976. Eles estão ativos até hoje, embora não estejam particularmente interessados na solidariedade para com Israel ou no judaísmo. E Hans Knoop, um jornalista judeu e porta-voz de uma fundação que trata do antissemitismo no futebol holandês, diz ainda que "cerca de 90% dos torcedores do Ajax não sabem nem onde fica Israel". "Quando eles gritam 'judeus, judeus!' ou 'Super Judeus', é apenas para animar o time e nada mais.
E também como os torcedores do Tottenham, os torcedores do Ajax até hoje recebem insultos antissemitas por parte dos torcedores adversários (sobretudo os do FC Utrecht, do ADO Den Haag e do Feyenoord). "Hamas! Hamas! Judeus para o gás", gritam os torcedores do Feyenoord regularmente quando enfrentam o Ajax, que é considerado seu arquirrival. O jogador Lex Immers, que estava no ADO Den Haag na época, foi proibido de participar de cinco jogos em 2011 por repetir uma das músicas de torcedores de sua equipe após a vitória contra o Ajax: "Vamos caçar judeus!"
Mas, ainda de acordo com Knoop, "os torcedores adversários não são necessariamente antissemitas, mas são contra o Ajax. E se o Ajax é judeu, eles têm de ser contra os judeus."
Em janeiro de 2005 o presidente do Ajax John Jaakke pediu aos torcedores para não levar as bandeiras de Israel e não mais se identificarem com os judeus: "O paradoxo é que o Ajax é conhecido como um clube de judeus, mas os próprios judeus tem medo de ir para os jogos do Ajax, em casa e fora."
Conclusão
Como foi destacado, não há realmente a necessidade dos torcedores de Ajax e Tottenham assumirem a imagem judaica (e ainda tem quem ache melhor não assumir), mas me impressiona a estupidez dos torcedores adversários de Ajax e Tottenham em fazer referências sobre algo que devastou a Europa, apenas por implicância. Mas enfim, infelizmente há quem o faça.
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